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terça-feira, 27 de setembro de 2011

A FORMA DA ROLDANA


Pesquisando meu HD, achei o texto abaixo, que devo ter guardado para uma ocasião como esta. Tente visualizar o que o homem descreve e, pra ficar mais engraçado, "ouça-o" com sotaque da terrinha...


Transmito explicação de um operário português, acidentado no trabalho, à sua companhia seguradora. (A cia. de seguros havia estranhado tantas fraturas em uma só pessoa num mesmo acidente).

Chamo a atenção para o fato de que se trata de um caso verídico, cuja transcrição foi obtida através de cópia dos arquivos da cia. seguradora envolvida.

O caso foi julgado no Tribunal da Comarca de Cascais - Lisboa - Portugal


(se preferir, clique no link abaixo e acompanhe com sotaque)




À Cia. Seguradora.
Exmos. Senhores,




Em resposta ao seu gentil pedido de informações adicionais, esclareço: No quesito n° 3 da comunicação do sinistro, mencionei: 'tentando fazer o trabalho sozinho' como causa do meu acidente. Em vossa carta, V. Sas. me pedem uma explicação mais pormenorizada.

Pelo que espero sejam suficientes os seguintes detalhes:

Sou assentador de tijolos e no dia do acidente estava a trabalhar sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares.

Ao terminar meu trabalho, verifiquei que havia sobrado 250 kg de tijolos. Em vez de os levar a mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi colocá-los dentro de um barril, e, com a ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada em um dos lados do edifício (mais precisamente no sexto andar), descê-lo até o térreo.

Desci até o térreo, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto andar, de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior. Retornei em seguida para o térreo, desatei a corda e segurei-a com força para que os tijolos (250kg) descessem lentamente.

Surpreendentemente, senti-me violentamente alçado do chão e, perdendo minha característica presença de espírito, esqueci-me de largar a corda...  Acho desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar, dei de cara com o barril que vinha a descer.

Ficam, pois, explicadas as fraturas do crânio e das clavículas.  Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento, já recuperara a minha presença de espírito e consegui, apesar das fortes dores, agarrar a corda.

Simultaneamente, no entanto, o barril com os tijolos caiu ao chão, partindo seu fundo. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente só 25 kg. Como podem imaginar, comecei a cair vertiginosamente, agarrado à corda, sendo que, próximo ao terceiro andar, quem encontrei ? Ora, pois, o barril quer vinha a subir.

Ficam explicadas as fraturas dos tornozelos e as lacerações das pernas. Felizmente, a redução da velocidade de minha descida, veio minimizar os meus sofrimentos, quando caí em cima dos tijolos embaixo pois, felizmente, só fraturei três vértebras.

No entanto, lamento informar que ainda houve agravamento do sinistro, pois, quando me encontrava caído sobre os tijolos, estava incapacitado de me levantar, porém pude finalmente soltar a corda. O problema é que o barril, que pesava mais do que a corda, desceu e caiu em cima de mim, fraturando-me as pernas. Espero ter fornecido as informações complementares que me haviam sido solicitadas.

Outrossim, esclareço que este relatório foi escrito por uma gentil enfermeira, pois os meus dedos ainda guardam a forma da roldana.
Atenciosamente,

Antonio Manuel Joaquim Soares de Coimbra

2 comentários:

Anônimo disse...

Rebatan! Impressionante - e verossímil - o relato. Gostaria de ouvi-lo, de viva voz, com o sotaque portuga, mas não encontrei nenhum link para isso, embora você tenha dito que havia essa possibilidade... Seu blog é DEZ!!!

H. Mazzei Filho disse...

http://vozme.com/speech/pt-ml/7e/7e948273ed5678581cf5ca814829ca05.mp3

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