Atendendo a inúmeros pedidos, decidi que, a partir de hoje, publicarei os "causos" de Iozinho, meu avô materno, um dos homens mais rápidos de raciocínio que conheci e de uma presença de espírito fantástica, que foi alvo de minha primeira incursão ao mundo literário, porque sempre disse a ele: "seus causos dão um livro". Deu um livrinho, mas muito espirituoso e engraçado.
ENTÃO VAI O PRIMEIRO "CAUSO", QUE DEU ORIGEM À CAPA DO LIVRO:
Lá pelos
anos 40, no bairro de Itapajipe, Salvador, Bahia, na Rua Lélis Piedade, onde
moravam meus avós maternos, numa casa igual a muitas da época, como esta da
capa do livro, com duas janelas que davam para uma sala e uma porta finalizando
um corredor, que levava aos demais cômodos, geralmente, pela ordem, os quartos,
o banheiro e terminando na sala de jantar. A cozinha, geralmente, era retirada
em uma varanda ou quintal nos fundos da casa, devido ao fogão a lenha, etc. A
vida da casa se passava, praticamente,
na sala de jantar e na cozinha, sendo a sala de visitas, junto à rua, poupada
e, muitas vezes até trancada no dia-a-dia.
Muito bem.
Um belo dia, meu avô (vou chamá-lo de Iozinho: "sinhozinho - nhozinho - iozinho") saiu para ir ao centro da cidade
e ele deveria tomar um bonde no ponto que ficava um pouco distante de casa. Foi
quando minha avó lembrou que poderia ter pedido para que Raimundo (ela nunca o
chamou de Iozinho) trouxesse pão da cidade. – Magaly, minha filha (era
meninota, minha tia caçula), veja se alcança seu pai e peça para ele comprar o
pão. A menina, talvez com preguiça, correu pelo corredor e, em vez de sair
atrás do pai, optou por gritar-lhe da janela da sala de visitas. Enfrentou o
obstáculo da porta da sala, depois teve que abrir uma das janelas para,
finalmente, tentar enxergar o pai, que já ia longe. E conseguiu. – MEU PAI! Ele
parou, tirou o chapéu (não se saia de casa sem) e olhou para trás. O bonde fez
a curva da Ribeira. – MINHA MÃE MANDOU DIZER PRA VOCÊ NÃO SE ESQUECER DE TRAZER
O PÃO! Ouviu ao longe: - HEIN? Inteligente, ela percebeu que deveria emitir uma
mensagem mais curta e direta. De novo: - NÃO SE ESQUEÇA DE COMPRAR PÃO! E
novamente: - HEIN? A mensagem, dessa vez deveria ser telegráfica: – PÊ, A, Ó,
TIL... O bonde passou por ele e Tia Magaly ouviu o resultado da soma das parcelas que emitira, alto e bom som: - MEEERDAAA!
CAPA
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