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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

IOZINHO - 5 Mil Réis


Essa foi nos anos setenta, ele já estava velhinho, de bengala, já viuvo, não doente, mas necessitando de atenção por parte dos filhos e netos, muito lúcido, morava em São Paulo. Meus pais, meus irmãos e eu já morávamos em Salvador, no Corredor da Vitória, em um apartamento térreo do Edifício Marina, ao lado da lanchonete e restaurante O Carramanchão. Minha avó havia falecido havia pouco tempo e pedimos para que ele passasse alguns dias conosco na Bahia. Todas as tardes, ele pegava uma dessas cadeiras de lona, de abrir, tipo “diretor”, e se sentava à porta do prédio para, como dizia, apreciar o movimento (um dia o flagrei dando uma bengaladinha de leve na bunda de uma incauta empregadinha, que voltava da padaria com seu pacote de pão, e disfarçou rapidamente, apoiando as mãos cruzadas e o queixo na bengala). 




Uma bela tarde, quando eu vinha chegando do trabalho com meu Herbie, um fusquinha cor de vinho, notei a cadeira encostada à parede do prédio e nada de Iozinho. Pensei logo: deve estar tomando uma cerveja ali no barzinho. Entrei no estacionamento do edifício, fechei o carro e voltei à rua para procurar meu avô. Chegando ao portão, olhei à esquerda e nada. À direita e... eis que Iozinho saia da lanchonete, de terno preto, chapéu preto, com a bengala pendurada no braço e enxugando os lábios com um lenço branco. Falei: - Oi, Vô, tava tomando uma cervejinha? E ele, disfarçando e se fazendo de surdo: - Ninguém por aqui troca cinco mil réis!


Iozinho gostava de tomar uma bebidinha de vez em quando. Não era nenhum alcoólatra, mas gostava, principalmente depois que ouviu Tio Bubi, sobrinho de minha avó e médico da família por muitas décadas, dizer que uma dose de uisque de vez em quando era bom para afinar o sangue. Minha avó algumas vezes o pegou de cálice na mão e a desculpa era sempre essa: “Você não ouviu o que Bubi disse?”

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