Essa foi nos
anos setenta, ele já estava velhinho, de bengala, já viuvo, não doente, mas
necessitando de atenção por parte dos filhos e netos, muito lúcido, morava em São Paulo. Meus
pais, meus irmãos e eu já morávamos em Salvador, no Corredor da Vitória, em um
apartamento térreo do Edifício Marina, ao lado da lanchonete e restaurante O
Carramanchão. Minha avó havia falecido havia pouco tempo e pedimos para que ele
passasse alguns dias conosco na Bahia. Todas as tardes, ele pegava uma dessas
cadeiras de lona, de abrir, tipo “diretor”, e se sentava à porta do prédio
para, como dizia, apreciar o movimento (um dia o flagrei dando uma bengaladinha
de leve na bunda de uma incauta empregadinha, que voltava da padaria com seu
pacote de pão, e disfarçou rapidamente, apoiando as mãos cruzadas e o queixo na
bengala).
Uma bela tarde, quando eu vinha chegando do trabalho com meu Herbie,
um fusquinha cor de vinho, notei a cadeira encostada à parede do prédio e nada
de Iozinho. Pensei logo: deve estar tomando uma cerveja ali no barzinho. Entrei
no estacionamento do edifício, fechei o carro e voltei à rua para procurar meu
avô. Chegando ao portão, olhei à esquerda e nada. À direita e... eis que Iozinho
saia da lanchonete, de terno preto, chapéu preto, com a bengala pendurada no
braço e enxugando os lábios com um lenço branco. Falei: - Oi, Vô, tava tomando
uma cervejinha? E ele, disfarçando e se fazendo de surdo: - Ninguém por aqui
troca cinco mil réis!
Iozinho
gostava de tomar uma bebidinha de vez em quando. Não era nenhum alcoólatra, mas gostava,
principalmente depois que ouviu Tio Bubi, sobrinho de minha avó e médico da
família por muitas décadas, dizer que uma dose de uisque de vez em quando era
bom para afinar o sangue. Minha avó algumas vezes o pegou de cálice na mão e a
desculpa era sempre essa: “Você não ouviu o que Bubi disse?”
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